A União Europeia, por meio do acelerador EIT Food, cofinanciou com €2 milhões a criação da primeira fazenda de carne cultivada do mundo, um projeto liderado pelo Consórcio Craft (Cellular Revolution in Agriculture and Farming Technology) na Holanda. A iniciativa se baseia em um modelo de produção descentralizado que integra a agricultura celular diretamente às operações rurais existentes, posicionando os agricultores como protagonistas da inovação.

O projeto reúne potências da academia e da indústria, incluindo a Wageningen University & Research, as foodtechs Mosa Meat e Aleph Farms, a especialista em meios de cultura Multus e a empresa de agricultura sustentável Kipster. O objetivo é desenvolver um sistema onde a produção de carne cultivada ocorra lado a lado com a pecuária e o cultivo de grãos, transformando a percepção da tecnologia de uma ameaça para uma oportunidade de diversificação e resiliência para o campo. Conforme afirma Ralf Becks, cofundador da RespectFarms, uma das líderes do consórcio: “Estamos traduzindo um desafio global para a escala da fazenda. Nosso objetivo é exportar tecnologia, e não animais”.

Tecnicamente, o modelo propõe a adaptação de infraestruturas existentes, como estábulos, para abrigar módulos de produção equipados com biorreatores. Neles, as células animais serão cultivadas para formar tecido muscular (carne) utilizando meios de cultura.

A proposta é alinhada às metas de sustentabilidade da indústria alimentícia. A produção de carne cultivada em fazendas pode reduzir em até 78% o consumo de água, 95% o uso da terra e 92% as emissões de gases de efeito estufa em comparação com a pecuária convencional. Peter Verstrate, cofundador da Mosa Meat, resume o impacto: “É a primeira vez que agricultura tradicional e celular se unem. O resultado promete ao consumidor o melhor dos dois mundos: carne real, produzida e vendida localmente”.