O segmento de alimentos plant-based continua em expansão global, com crescimento consistente impulsionado por consumidores que buscam dietas mais sustentáveis, éticas e saudáveis. Com isso, o setor de panificação enfrenta desafios técnicos específicos para alcançar formulações 100% vegetais que mantenham atributos desejados como maciez, elasticidade, volume e sabor. A retirada de ingredientes de origem animal, como ovos, leite e derivados, afeta diretamente as propriedades reológicas e sensoriais da massa e do produto final. Entretanto, existem alternativas que estão ganhando espaço no mercado.
Desafios tecnológicos na panificação plant-based
A reformulação de produtos de panificação para versões 100% plant-based exige a compreensão de várias funções desempenhadas por ingredientes de origem animal. Ovos e leite, por exemplo, contribuem não apenas com valor nutricional, mas também com atributos reológicos essenciais ao desempenho da massa e qualidade sensorial do produto final.
Entre os desafios mais relevantes estão:
Além disso, muitos desses produtos precisam manter estabilidade térmica e vida de prateleira estendida, mesmo sem conservantes artificiais, o que impõe desafios adicionais à estruturação da matriz vegetal. Assim, o desenvolvimento de panificados plant-based requer integração entre conhecimento de funcionalidade de ingredientes, comportamento de massa e tecnologia de processos como mistura, fermentação e assamento.
Em sistemas tradicionais de panificação, ingredientes como ovos e leite contribuem para estrutura, emulsificação, umidade e cor da massa. Sua ausência requer uma nova abordagem na formulação para compensar:
A complexidade aumenta em aplicações como pães de forma, bolos, muffins e croissants, onde a estrutura aerada e a textura macia são críticas para a aceitação do consumidor.
Ingredientes funcionais para substituir ovos e leite
Para superar essas limitações, uma combinação de ingredientes tecnológicos e naturais tem sido usada com sucesso:
1. Emulsionantes naturais e proteínas estruturantes
Lecitina de girassol, mono e diglicerídeos vegetais e extratos de algas ajudam na formação da rede proteica e na incorporação de ar;
Proteínas vegetais isoladas (ervilha, fava, grão-de-bico) contribuem para estrutura e retenção de água.
2. Hidrocolóides e fibras solúveis
Gomas como xantana, guar, psyllium e inulina simulam a viscosidade, aeração e capacidade de gelificação dos ovos;
Betaglucanas contribuem para retenção de umidade e estabilidade da massa durante o assamento.
3. Amidos modificados e pré-gelatinizados
Atuam como agentes espessantes e contribuem para a maciez e elasticidade da massa, além de facilitar o molde e corte em linhas industriais.
4. Fermentos enzimáticos e agentes de volume
Misturas enzimáticas (amilases, lipases e proteases) melhoram a extensibilidade e estabilidade da massa;
O bicarbonato de sódio com ácidos orgânicos encapsulados (como ácido cítrico ou tartárico) pode gerar o efeito de crescimento similar ao obtido com ovos.
Avaliação sensorial e aceitação do consumidor
Estudos conduzidos por centros como o Institute of Food Technologists (IFT) e a Campden BRI demonstram que panificados plant-based podem atingir scores sensoriais equivalentes aos convencionais quando os sistemas de substituição são bem otimizados. Avaliações de textura instrumental, análise descritiva quantitativa e testes triangulares com consumidores validam essa equivalência em atributos como volume e simetria, textura interna (maciez, elasticidade), cor da crosta e migalha, além do sabor residual (ausência de notas vegetais ou amargas).
Perspectivas de mercado
Segundo a Grand View Research (2023), o mercado global de panificados plant-based deve crescer a uma taxa composta de 7,9% até 2030. Na Europa e América do Norte, mais de 20% dos lançamentos de panificados em 2022 foram classificados como veganos ou sem ingredientes de origem animal, de acordo com a Mintel GNPD. Isso demonstra que a reformulação plant-based, antes restrita a nichos, passou a integrar estratégias de portfólio de grandes indústrias.